terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Autopsia do Brega como você nunca viu

Estive recentemente no Rio de Janeiro para uma apresentação e fui muito bem recebido pela minha querida amiga Lúcia Moreira. Nós somos amigos de longas datas, estudávamos juntos no Conservatório Carlos Gomes em Belém-PA. Hoje somos dois paraenses vivendo longe da nossa terrinha.

Fiquei hospedado na casa dela e logo no primeiro almoço começaram os comentários sobre o jeito paraense de ser, como sempre acontece quando conterrâneos se encontram fora de sua terra natal. Então ela me mostrou esse vídeo em que o humorísta e apresentador do programa 15 minutos da MTV, Marcelo Adnet faz imitações sobre o Brega, ritmo típico do Pará.

O Brega não é uma preferência, nem tão pouco uma influência musical pra mim, porém não posso negar a identidade que o mesmo tem com a cultura popular paraense. Por isso me diverti tanto assistindo esse vídeo. É uma verdadeira autopsia do Brega!


5 comentários:

João Emiliano Martins Neto disse...

Olá caro irmão Moisés eleito de Deus. Que a Paz do Senhor Jesus seja com você e com a sua família! Como vai? Bom é vê-lo manifestar-se, ainda que de forma bissexta ou raramente, neste seu Blog.

Filosofando um pouco, a respeito deste seu post se me permite, caro conterrâneo: eu escreveria aqui de que o gosto do paraense pelo brega é fruto do estado atual da alma do paraense. Em filosofia da arte, aprendi alguma coisa, de que o artista age por mimese ou imitação. Também aprendi de que a arte é a expressões de impressões. Ou seja, como diz o ditado, "a arte imita a vida e vice-versa". Logo, ao estado de rebaixamento moral da sociedade paraense segue-se uma expressão artística pífia e, por fim, nesse nosso verdadeiro rio de dimensões amazônicas caudoloso de pecado, breguice e rebaixamento moral no qual jazemos, vivemos, movemos e existimos, tal rio fez-nos desaguar a nós, os paraenses em um governo como o petista que causou "trans(DE)formações" de talvez impossível reversão para nós, povão do Pará...

Lúcia Moreira disse...

Voltando a comentar...

Bem, antes de tudo, acho que cabe um apontamento aqui. Não sei dizer se felizmente ou infelizmente, mas o tecnobrega tem ocupado sim um lugar importante na música popular, tanto no Pará e quanto Brasil.

Como educadora e pesquisadora na área de música, não posso tendenciar para um estilo "melhor" ou "pior". Não existe essa divisão! O que existe é a divisão proveniente das próprias pessoas que escolhem ou elegem o tecnobrega como seu estilo favorito. Não devemos pensar: "Poxa, que pena o povo do Pará estar ouvindo essa música...". Ninguém é coitadinho por só ouvir brega! As pessoas querem ouvir!!!

Devemos pensar que essa música é construída e validada por essas pessoas que compram os cds, que vão as festas de aparelhagem e geram um imenso capital do tecnobrega. Na verdade, estamos falando aqui é de música de massa, que conquistou o gosto dos paraenses.

Essa semana ouvi um comentário de uma colega de profissão que me relatou o seguinte fato:
- "Trabalho em um morro com coral e logo no início eu pensei em trabalhar um repertório que fosse comum a eles e que eu pudesse me aproximar dos meninos. Então, trabalhei aquele funk "Eu só quero é ser feliz...”, pois entendia que essa música era a realidade deles.
Depois de um ano de trabalho, onde tive a oportunidade de inserir outras músicas no repertório (Chico Buarque, Milton Nascimento, Lulu Santos...) pedi para eles escolherem uma música para encerrarmos o trabalho. E para minha surpresa, a maioria escolheu uma música do Milton Nascimento chamada "Cio da Terra" e não um funk. “E eles ainda diziam que o funk era chato...”.

Isso me remete a situação do nosso estado. Estamos carentes de uma produção musical mais diversificada!! Sei que existe uma música popular e folclórica que ainda resiste a toda essa massificação da música paraense... basta que elas cheguem as pessoas.

Então, que a gente possa refletir no sentido da coexistência de vários estilos musicais. E que cada pessoa é responsável pelas suas escolhas, inclusive musicais...

João Emiliano Martins Neto disse...

Enfim, de fato, a arte imita a vida, Dona Lucinha. Você, parcialmente, validou, confirmou o que escrevi acima. Em parte porque se absteve, como é lugar-comum na pós-modernidade na qual jazemos, de fazer qualquer juízo moral e o que é mais alarmante você se absteve de fazer juízos estéticos a respeito da qualidade do gosto artístico do povo. Eu, de minha pecadora ou insignificante parte, Dona Lucinha, ficaria prudentemente antes muito mais com um Rei Davi autor dos Salmos, Mozart, Bach, Samuel Nyström ou Paulo Leivas Macalão (clássicos e excelentes autores sacros da Igreja Protestante) do que com o tal de funk, o rap, o rock, o pop ou o brega, pois para mim estes últimos são exemplos da decadência de nossa civilização ocidental...

Se você é educadora, pesquisadora, dona Lucinha, sugiro com todo a paciência e doutrina, como recomenda a Sagrada Escritura, de que você faça o seu trabalho de fazer ciência e emita juízos após observar certas constantes na realidade, sim, faça o favor! Não seja omissa e deixe a "falta de juízo" para pessoas consagradas ao ministério cristão como pastores, padres, o meu irmão eleito, o Moisés e até mesmo eu, porque a loucura da pregação da cruz de Cristo é "falta de juízo mesmo", é loucura para os que se perdem.

Deus a abençoe, prazer em conhecê-la e ABRAÇOS!

Moisés Pena disse...

João,

Entendo seu ponto de vista, porém o que a Lucia está atenuando é o valor cultural que surge naturalmente e que acabam caracterizando o povo. Se vc for retratar a estética musical do ponto de vista socio-pólitico, vc irá trilhar um caminho bem complicado. Tchaikovsky quando apresentou a suite "O Quebra-nozes", a sociedade da época não se agradou nem um pouco. O mesmo aconteceu com Beethoven e Mozart com algumas de suas peças.

Repito, o brega e suas variantes não são minha preferência musical, porém não posso negar que eles fazem parte cultura popular paraense.

Moisés Pena

Lúcia Moreira disse...

João,

Acho que você não entendeu minhas opiniões! O Tecnobrega não é uma música de minha preferência, assim como o funk. Porém, não sou hipócrita nem tão pouco alienada para fechar os olhos e não ver que esse tipo de música é a que o povo gosta. O que eu relatei no meu post anterior, diz respeito a uma massificação da cultura e não a favor deste ou daquele estilo musical.
Assim como vc, também sou evangélica e considero que há muitas músicas impróprias no mercado e na mídia.

Agora, se você pensar que todo compositor clássico era "divino", cuidado! Não é porque a música é orquestral que ela necessariamente foi dedicada para Deus ou foi feita por homens que dedicaram sua vida a Deus. Pelo contrário, existem vários compositores na história da música que eram pagãos e compuseram músicas de grande sucesso. E que até hoje são muito tocadas nas grandes orquestras e que possivelmente você até tenha um CD.

Aqui no blog do Moisés existe um post com uma entrevista do Pr. René Kivitz. Retirei uma parte para você ler e refletir sobre a CULTURA.

Entrevista:
Guia-me: Você faz algumas referências musicais como a Lulu Santos, Renato Russo, Biquini Cavadão. Como você responderia a uma possível critica negativa por utilizar músicas "seculares" intercaladas com uma literatura bíblica. De misturar o sagrado com o profano?

René Kivitz: Justamente o nosso esforço cristão deve ser no sentido de acabar com esse fosso que existe entre o chamado sagrado e o profano; o secular e o religioso. Isso é próprio de uma mentalidade moderna que renegou a religião a um canto e é próprio de religioso recalcado que não quer dar o braço a torcer e admitir que fora do seu espaço religioso há sabedoria. Se eu pudesse me defender, eu diria que nós devemos acabar com essa ideia de vida cristã. Não existe vida cristã. Existe vida. Existe um jeito cristão de ver a vida e um jeito não-cristão de ver a vida. Mas existe vida.

Quando o sujeito vai almoçar num restaurante, pegar um ônibus para a universidade, quando ele procura um dentista, ele não pensa que o restaurante, o dentista, a universidade e a empresa de transporte coletivo são profanos. Mas a poesia ele acha que é profana. Nós temos que usar tudo que existe e redimir a cultura, a arte e fazer com que a teologia dialogue com que a sabedoria das tradições espirituais converse e se misture com a cultura.

Que você procure abrir sua mente como um verdadeiro cristão.

Abraço

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